SAPATO VELHO

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Eu estudei sempre em colégio particular, mas também sempre fui bolsista, não integral, pois uma parte minha mãe tinha de pagar, e para isto ela mantinha dois empregos. Por uma época eu também ajudei a pagar meus estudos, prá falar a verdade, desde a 6ª. série do primário que eu ajudo a pagar meus estudos. Tínhamos uma vida financeiramente bem apertada, e no final do mês não sobrava muito dinheiro, ou melhor, nada. Eu tinha 11 anos, e nesta época eu tinha um sapato, apenas um. 

Era o sapato para ir para a escola, para a igreja e para sair. Era só ele. Este sapato já estava bem esfolado, bem judiado, mas era o que eu tinha.

Na minha escola meus colegas tinham o tênis do ano. Nike Air Jordan, Rebook Pump (aquele da bola que infla a língua) e vários outros que eu babava, mas eu sabia que estava totalmente fora da minha realidade.

Um dia na aula de educação física o professor resolveu fazer uma inspeção! Por que ele exigia que para as aulas dele todos estivessem com o material adequado. Então ele enfileirou todos os alunos da 5ª. série e foi olhando um por um, até chegar em mim.

Quando ele me olhou, ele parou e disse: “Porque você não veio de tênis? Você não sabe que na aula de educação física tem de usar tênis? Como você pensa que vai fazer as atividades físicas de sapato?” e antes que eu dissesse qualquer coisa, ele ergueu minha calça e viu que eu estava sem meias (naquele dia meus irmãos usaram as que tinha…) e então ele debochou “e ainda sem meias? Você não sabe que isto dá chulé?” , e neste momento todos os meus colegas começaram a rir. Então ele me colocou de fora da aula para eu “aprender a vir com os trajes corretos para a aula”.

Eu fiquei em silêncio o tempo todo, e esperei ficar a sós com ele. Assim que todos os alunos saíram eu falei “professor, posso falar com o senhor?” e ele meio impaciente disse “tá, o que é?” e eu então falei “olha, eu vim de sapato para a aula porque é a única coisa que eu tenho, eu não tenho nenhum tênis.” Ele então ainda tentou argumentar e falou “você precisa pedir para sua mãe comprar um tênis para você vir para as aulas de educação física” e eu respondi “mas ela não tem dinheiro, este é o único calçado que eu tenho…”. Aí então a ficha caiu e ele percebeu a grande idiotice que tinha feito.

O orgulho não o deixou fazer nada, nem se desculpar, mas daquele dia em diante ele nunca mais implicou comigo e passou até a ser alguém “legal”.

Resolvi contar isto para vocês porque eu aprendi muitas coisas com este dia. Uma delas é de que nunca devemos julgar alguém pelas aparências, a gente não sabe a história de cada pessoa, e porque ela está ou age de determinada forma hoje. O que você acha um “relaxo” pode ser a simples e tradicional “pobreza”, o que para você é “gula” pode ser um transtorno hormonal ou alguma questão psicológica da pessoa que a faz ter sobrepeso. Não temos o direito de julgar ou avaliar alguém apenas por uma impressão que temos.

Outra coisa é: Elogiar em público e repreender no privativo. Você evita humilhações e constrangimentos para ambos. É o ético, é o correto a se fazer. Hoje em dia chamamos isto de bullyng, mas não precisaria ter um nome em inglês na moda para perceber o quanto isto estava errado…

Cada pessoa tem uma vida, uma história e não cabe a nós julgar ou tentar interpretar, devemos apenas respeitar. E ponto.

Abraços,

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