Millennials: presas da armadilha do bem

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Cada geração tem uma identidade própria, um padrão, um mote, um comportamento que a define, resultado das experiências que seus pais vivenciaram e do contexto social de sua época.

Os Baby Boomers, nascidos logo após o final da 2ª. Guerra Mundial (especialmente os europeus, americanos, canadenses e australianos), tiveram como principal característica a busca pela estabilidade financeira, com empregos fixos e de longo prazo, abrindo mão de sua vida pessoal para garantir segurança e sustento da família, comportamento adquirido por seus pais terem vivido período de grande escassez durante a guerra. A Geração X, que sucedeu aos Baby Boomers, ficou conhecida pelo comportamento mais frio, rebelde e cético com a política, também começaram a buscar certo equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Em seguida veio a Geração Y, também conhecidos como millennials – e neste contexto inclui-se também a Geração Z – que além de uma incrível facilidade com tecnologia e relações virtuais, são também muito conhecidos pela sua empatia e interesse por causas sociais, resultado, em parte, da efemeridade de suas relações, que acabam sendo muito tecnológicas e de pouca interação social. Tendem a ter certa carência emocional e até problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

Em cada momento da história, cada geração contribuiu para romper com o que era inadequado, ultrapassado ou tinha tomado proporções exageradas na geração anterior, trazendo novas demandas, novas ideias e novas lutas para a sua geração. Os millennials têm contribuído significativamente para criar uma sociedade mais moderna e justa. A empatia da sensível Gerações Y tem sido fundamental para colocar em pauta discussões sobre igualdade de direitos e oportunidades, a luta contra preconceitos e estereótipos e outras bandeiras que visam tornar nossa sociedade mais humana e mais preocupada com os sentimentos uns dos outros. Isto é maravilhoso, mas ao mesmo tempo, torna-os presas fáceis.

Apropriação política dos sentimentos

Foi na década de 1960 que a esquerda deixou de limitar sua definição de luta de classes no âmbito econômico – onde os opressores eram os capitalistas donos dos meios de produção e os oprimidos eram os trabalhadores proletários – e passou a abraçar e acolher grupos identitários ou as chamadas minorias (ou mais atualmente: grupos minorizados), identificadas especialmente por negros, mulheres e LGBTs. Nesta releitura da dicotomia socialista, os oprimidos passaram a ser tanto os trabalhadores proletários como também as minorias, enquanto os capitalistas continuaram sendo os opressores, porém, agora na figura do “homem branco cis”. Surgia assim a New Left (Nova Esquerda), e a esquerda deixava de ser trabalhista e revolucionária, para ser progressista, inclusiva, desconstruída e “Gratiluz”.

A luta por direitos iguais para mulheres, negros e LGBTs foi e é essencial para construção de uma sociedade mais justa e igualitária em direitos e oportunidades. É impensável que alguém possa se opor a isto. No entanto, o que se percebe desde que a esquerda sofreu esta mutação nos anos 1960, é o uso político destes grupos identitários para promover outras pautas que, não necessariamente, estes grupos adeririam se não fossem acolhidos pelos socialistas da New Left. E esta é a grande armadilha.

Pertencimento e o medo de não ser visto como ‘do bem’

Atualmente os millennials se encontram na fase de grupos, de socialização, onde a necessidade de pertencimento resulta na adequação de comportamentos que visam a aceitação em determinados grupos. Linguajar, roupas, cortes de cabelo, preferências musicais, hábitos e pensamentos, são padronizados e viram uma norma intrínseca do grupo. E isto não é exclusividade desta geração: se nos anos 1980 o descolado era fumar, hoje é ser vegano. Cada geração teve seu padrão de comportamento, e o da Geração Y é “ser do bem”.

Embora os millennials possuam genuína empatia, quando confrontados com situações que demandam uma avaliação pragmática, eles evitam a todo custo dar o que seria a resposta natural e óbvia, com medo de serem preconceituosos, o que imediatamente os colocaria no “lado do mal”. Note neste vídeo como os jovens estudantes da universidade de Washington respondem a questões absurdas, como quando o entrevistador, um homem branco de cerca de 30 anos, pergunta: “O que você acharia se eu te falasse que tenho 7 anos?” ou “O que você acharia se eu te falasse que sou chinês?”.

Embora sejam de fato jovens mais abertos à diversidade, é inegável que existe um medo silencioso de serem enquadrados como preconceituosos, elitistas, racistas, machistas, homofóbicos, gordofóbicos, xenófobos e tantos outros adjetivos que foram deturpados politicamente e utilizados a exaustão como forma de dividir a sociedade entre “bem” e “mal”.

 

A armadilha

Os estrategistas políticos estão constantemente criando regras de conduta para policiar o comportamento e o pensamento das pessoas baseado na defesa de suas pautas. O que divide os bons dos maus não é mais a empatia com os injustiçados da sociedade, mas sim, o questionamento das soluções que a esquerda apresenta para estes problemas sociais e as pessoas que as propõe, logo, a defesa de minorias deixa de ser ampla e aberta a todas as sugestões e ideias que possam colaborar para esta finalidade, e passa a ser fechada apenas nas soluções propostas por políticos de esquerda, e questionar estas soluções, ou estas pessoas, é ser imediatamente contra aquele grupo supostamente defendido.

A empatia, a boa intenção e a sensibilidade dos millennials foram sequestradas por uma narrativa política que dita para estes jovens quais pautas eles devem defender para não serem rotulados daquilo que eles de fato não são: preconceituosos. E isto deixa-os amedrontados.

No ímpeto de serem aceitos nos grupos, de vivenciarem uma sensação de pertencimento, de terem uma causa que valha lutar e de sentirem que fazem a diferença no mundo, os millennials se submetem às regras de conduta criadas pelos políticos de esquerda e passam a agir como agentes de controle e policiamento do comportamento uns dos outros, criando um ambiente de competição silenciosa, onde um quer provar que é mais desconstruído que o outro. Utilizam-se de jargões típicos do grupo que conotam uma superioridade moral em relação aos que não são do grupo e tornam-se justiceiros sociais armados de verbetes que fingem lutar por uma causa nobre, mas que se saciam utilizando-as para sinalizar virtude para a claque.

Coagidos a defender as propostas criadas pela esquerda como soluções absolutas de combate às injustiças sociais, os jovens das Gerações Y, que só queriam defender a igualdade de direitos e oportunidades, sonhando com um mundo mais inclusivo, sustentável e livre de preconceitos, acordam vestindo uma camiseta do Che Guevara, boné do MTST, em meio a uma manifestação para defender um político sabidamente pilantra, fazendo o “L” como se isto sinalizasse alguma virtude, acreditando estarem fazendo a diferença no Brasil ou no mundo, mas sendo apenas marionetes bem intencionadas nas mãos de canalhas manipuladores que usam estas pessoas para obter vantagens, votos, lucro ou o status.

Isto quando estes canalhas manipuladores não são apenas outros millennials que um dia caíram na mesma armadilha, mas aprenderam como ela funciona e como obter vantagens com ela, afinal, o sonho do oprimido é se tornar o opressor.

#textosdequinta

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