Apelo: Periferia, volte para o RAP

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Cresci no Capão Redondo. Vivi lá durante as décadas de 80 e 90 quando o RAP estava no seu auge. Já no final dos anos 90, tive um contato um pouco mais próximo com este estilo musical por ter participado de um projeto de um mega show de RAP e por ter um projeto online para despertar nos jovens da periferia o interesse pela escrita, contando suas histórias, escrevendo poesias etc.

Antes de ter um contato mais próximo com o RAP eu tinha um grande preconceito. Sem muitos rodeios, eu achava que era música de bandido, e para muitos que leem este texto, talvez seja isto mesmo que acham. Mas faço um apelo para que continuem lendo este meu texto e se deem a oportunidade de pensar diferente.

Como todo estilo musical, terão aqueles que são referências, que são fantásticos no que fazem. E neste sentido é impossível falar de RAP e não falar dos Racionais MC´s, em especial do Mano Brown.

Eu citar o Mano Brown talvez tenha sido a gota d’água para você, e se foi isto mesmo, eu te pergunto: Você já prestou atenção em alguma das músicas dos Racionais? Você alguma vez parou para ler, refletir sobre alguma destas letras que narram o cotidiano na periferia para tentar entender um pouco como é a vida de quem nasce e cresce por lá? Como pode você ter asco de algo que sequer conhece?

O RAP nasceu na periferia como uma forma do pobre, com versos diretos, linguagem clara, dura, agressiva, cheia de dor, de raiva, de sinceridade, expressar o seu sentimento, seus desejos, seu sofrimento, sua esperança.

O RAP, o bom RAP, como a maioria era, ensinava o jovem pobre a pensar, a questionar, a lutar pelos seus direitos, pela igualdade, por oportunidades, por respeito! Sim, o RAP ensinava o jovem a se respeitar, a andar longe das drogas, do crime. Dizia para o jovem não se meter com promiscuidades, para ser um cidadão de bem, por mais que o dinheiro, a fama, a vida fácil, os vícios, o cercassem a todo instante, ele deveria manter-se firme, não se deixar ser influenciado por uma vida fácil.

Na música “Capítulo 4 Versículo 3” dos Racionais, em um trecho o Mano Brown diz “um rap venenoso ou uma rajada de PT”, ou seja: Por mais duro que seja, ouça o que eu tenho pra te dizer, ou você pode acabar morto. (PT é uma metralhadora).

Na minha época, nos anos 80 e 90, você ouvia os carros passando pela periferia com um som alto tocando algum RAP. Eram músicas que faziam ele pensar, questionar sua posição social, discutir política. Músicas que mostravam o caminho correto e o motivaram a mudar o “sistema”. Hoje, andando pela mesma periferia, os carros só tocam Funk, com letras de sexo explícito impronunciáveis, letras de uma futilidade absurda, de péssima qualidade de produção e que absolutamente tem a agregar para o jovem já sofrido da periferia.

O que o Funk tem feito pela periferia? Ensinado meninos e meninas de 14 anos que o legal mesmo é transar com quantos conseguir? Que ostentar é o caminho? Que ter muito dinheiro e poder atrair várias mulheres fáceis é vencer na vida? Qual a contribuição do Funk para fazer com que o jovem da periferia busque melhores condições de vida? O que o Funk tem para oferecer ao jovem da periferia? Ou mais: Não estaria o Funk potencializando os problemas da periferia?

Sei que música é entretenimento, mas ao mesmo tempo, a música influencia nossa vida, e se ouvida exaustivamente durante a adolescência, que é justamente quando estamos formando nossa identidade, é inegável que ela terá uma grande participação na formação do indivíduo.

A periferia precisa do RAP, e este é o meu apelo. Voltem a ouvir RAP, voltem a produzir RAP de qualidade.

Você, jovem da periferia, precisa ser mais consciente da sua realidade e lutar por mais justiça, oportunidades e por mais respeito. Se você nunca ouviu a música “Fim de Semana no Parque” dos Racionais Mc´s, você deve parar agora, reservar alguns minutos e ouvir esta obra prima do RAP. Ouça com ouvidos atentos. Você precisa disto!

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